quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Não é propriamente apropriado

Férias e o do costume, ou seja, a casa da avó. O meu telemóvel toca e vejo o número da minha mãe, prevendo que seria macaquito, atendo com um enorme:
-BOM DIIIIIIIIA!
-NÃO! Não está tudo bem. - diz-me do outro lado como se todos os problemas do mundo fossem culpa minha.
-Pois, estou a ver que não. O que se passa?
-A avó está zangada comigo.
-O que é que fizeste?
-Olha, portei-me mal, pus-me de castigo a mim próprio e agora estou chateado comigo próprio porque estou de castigo e a avó disse que eu podia ficar aqui a amuar o dia todo! 
E que na realidade seria um grande contra-senso desautorizar-se a si próprio e retirar-se do seu próprio castigo. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Juro que o tento educar melhor...

Enquanto arrumava o meu quarto percebi que macaquitos se desentendiam na sala, a forma de resolver os problemas entre eles é desviar o foco do assunto que, a maioria das vezes, é tão complicado como decidir qual o canal de desenhos animados que cada um quer ver.  Opto quase sempre para chamar apenas um e desviar a atenção do não assunto.
-Macaquito, chega aqui à mamã. - chamo do quarto.
-Sim mãe?!
-Ajuda-me aqui a fazer a cama para eu me despachar mais depressa.
-Ok, vou aqui para o lado do papá. - começou a puxar o lençol mas puxa sempre na direcção dele próprio e não da cabeceira da cama. Dei a volta e ajudei a consertar o lençol e o edredão, ficou apenas a dobra do lençol por fazer, voltei ao meu lado e dobrei pedindo-lhe que fizesse o mesmo mas puxou tanto a dobra que desmanchou quase tudo.
-Macaquito, que trapalhada. Eu não acredito que um rapaz com 11 anos ainda não sabe fazer a cama. - digo-lhe em tom de brincadeira.
-Não te preocupes com isso, quando eu crescer vou arranjar uma namorada e será ela a fazer a cama!

Da perda

Quase sete meses passados sobre a morte do meu pai, macaquito começa agora a compreender a dor da saudade, a maturidade emocional que lhe achámos era, na verdade, incompreensão. Chora a impossibilidade de rever o avô, percebe agora que é irreversível, que não podemos ir buscá-lo lá ao sítio onde o deixámos. Mas o avô não queria morrer, diz-me com a voz embargada e eu explico-lhe da maneira que sei, com as palavras mais doces que sei, que a saudade pode ser boa, que é o bocadinho dele que temos no nosso coração que não nos deixa esquecê-lo e que será sempre parte do que somos. Digo-lhe, sem acreditar, que esteja onde estiver o avô nos acompanha e nos protege e estará feliz se nós também estivermos, minto-lhe deliberadamente porque não tenho outra forma de lhe mitigar a dor.
No fundo não sei nada da dor dele, ele explica-se por analogias a que tento dar expressão e valor mas não sei se consigo com exactidão uma medida para essa dor. E ao mesmo tempo que se confronta com a dor da morte percebe da pior maneira que também se perde pessoas vivas, depois do silêncio confuso a que me votou nos últimos dias, chovem agora chorrilhos de perguntas a que não sei de todo responder. Invento razões que ignoro, digo-lhe que às vezes as pessoas se sentem tão sozinhas que não querem ver ninguém mas não espero que compreenda. Enxugo-lhe as lágrimas e envolvo-o entre os meus braços e espero desta forma apaziguar as suas emoções porque sei que não há palavras que o consigam consolar.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

A difícil arte de mandar

Enroscados na cama dele, conversamos sobre o que nos entreteve durante o dia, ele faz perguntas sobre o meu trabalho e eu sobre a escola e as actividades, até que ele dá a volta à conversa.
-Mãe, a partir de agora sou eu a mandar e tu vais ter de fazer as minhas tarefas.
-Ai é? Então e quais são as tarefas?
-Arrumar os brinquedos e brincar como Audi!
-Parece-me bem mas visto que vamos trocar de papéis, para mandares terás de fazer as minhas tarefas. - digo-lhe expectante.
-Ok e quais são as tuas tarefas?
-Cozinhar, tratar da roupa, limpar a casa, arrumar....
-Cozinhaaaar? Eu não sou gastrónomo! 
-Eu também não mas temos de comer.
-Pronto, está bem. O que é que tenho de fazer amanhã?
-Tens de acordar muito cedo, às 7h e depois tens de preparar o pequeno-almoço para todos, preparar as roupas para ti e para a mana, os lanches e até te deixo conduzir o carro para nos levares à escola.
-O carro? Eu não tenho carta de condução, tontinha. 
-Ok, eu levo o carro e tu tratas do resto.
-Está bem mas não sei se consigo acordar cedo, não tenho despertador.
-Eu ponho o meu despertador aqui quando me for deitar.
-É melhor não, toca muito alto e eu vou-me assustar. - pensei que estivesse arrependido de aceitar as tarefas e que a coisa ficasse por ali. Pensei mal!
De manhã, assim que saio do banho dou com ele a correr para a minha cama e a dizer ao pai que se deixasse estar que ele ia preparar o pequeno-almoço. E assim fez, arranjou leite para todos, bolachas para a irmã, a papa para ele. Acordou a irmã com mimo, tal como eu faço, comeu, arrumou a loiça como conseguiu, perguntou-me o que fazer a seguir e foi-se vestir.
-Mãeeeeeee, dás-me umas calças que eu não chego lá? - vou ao quarto dele e já tinha escolhido e vestido meias e camisolas, enquanto vestia as calças perguntou-me o que fazia a seguir.
-Quando acabares de te vestir podes ir fazer as camas. - olhou para mim com um ar aterrorizado e diz muito chateado.
- Tenho a impressão que sou pau para toda a obra!

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Baseado no conto "O rato do campo e o rato da cidade"

Já nem sei o que levou à conversa, estávamos no carro a caminho da escola.
-Eu gostava mesmo de viver numa vivenda.-diz macaquita.
-Tens bom remédio, pegas no pai e vão os dois para a "aldeia", eu fico com o mano aqui e vemo-nos ao fim de semana.
-Tu não percebes, é como a história que o pai inventou no outro dia, os gatos da cidade comem do lixo e os gatos do campo caçam ratos para comer. Eu não quero ser um gato da cidade e comer do lixo. Quero ir para o campo caçar ratos....
... (pausa muito prolongada)

(continua) ...ah! Pois, os gatos do campo são como os humanos que caçam porcos para comer!
-Ah pois é! A malta do campo quando vai ao supermercado anda toda de caçadeira em punho para trazer porcos para casa. - respondo eu sem conseguir evitar uma barrigada de riso.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Alguém devia ter uma bola vermelha ou como lecionar disciplina positiva...

Uma manhã destas macaquita não se sentia muito bem, tosse e dor de cabeça, dizia ela. Perguntou se podia ficar em casa, como não tinha febre insisti para que fosse à escola. Já à porta da escola teve um ataque de choro, puxei-a para o meu colo e tentei acalmá-la.
-Porque é que estás a chorar assim? Não te sentes bem?
-Eu não quero ir à escola, posso ficar em casa hoje?
-Macaquita, se não te sentires bem ou tiveres febre, pedes para ligarem para mim e eu venho buscar-te.
-Mas a professora grita muito.
-Contigo? 
-Não, não grita comigo mas grita muito alto com os outros e eu nem consigo pensar.

E depois há os bons professores...

domingo, 18 de novembro de 2018

Sol de São Martinho

Foi capricho meu pensar que subiria a escadaria rumo ao espaço e encontraria no seu topo as respostas a alguns dos teus enigmas. Sei que é em Saturno que te encontras, que em Marte tens a tua segunda cor preferida e em Neptuno a primeira. Depressa percebi que não há respostas nas estrelas, que passear pé ante pé na Via Láctea não me faria encontrar-te, não és de outro planeta, não és satélite nem cometa, és azul do espaço e é ao espaço que tornas para te encontrar mas não é lá que moras.
Revolvo galáxias repletas de outros planetas e constelações e não encontro absolutamente nada que me permita compreender os teus mistérios, volto à Terra sem respostas mas cheia de certezas, é no meu colo que encontras consolo, nos meus abraços apaziguas incertezas e saudades e nas minhas palavras procuras conselhos até para as tuas inconveniências. E isto é o que me basta, a certeza do amor que temos.




segunda-feira, 22 de outubro de 2018

As três luas

Já há muito tempo (tanto que não me lembro desde quando) que macaquito me pergunta sempre que se lembra o que quer dizer o sinal de trânsito com três luas. Fartinha de puxar pela cabeça e não conseguir perceber, perguntava-lhe se era um sinal de informação, perigo ou obrigatoriedade e ele não me sabia responder. Desde muito pequeno que ele reconhece e sabe o nome da maioria dos objectos, mesmo os menos comuns, no entanto, sempre teve muita dificuldade em distinguir caso lhe sejam apresentados numa forma menos habitual, daí ter percebido desde a primeira vez que seria qualquer outra coisa que não luas mas andava muito curiosa sem conseguir chegar à resposta. 
Finalmente percebi quando passávamos numa ponte na autoestrada e ele me tornou a perguntar, mais uma vez nem tinha reparado mas lembrei-me que naquele sítio existe um sinal destes:
Confirmei com ele e sim, confere, na cabeça dele são três luas e não uma manga de vento e eu fico a pensar que é bem bonito ver luas num sinal de perigo É lá que anda sempre... na lua.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Não bastava ter de fazer um bolo sem glúten

Se calhar não se lembram da história do alaúde, cá em casa ainda nos rimos à conta dela. Contínuo sem entender se ele diz a primeira coisa que lhe vem à cabeça ou se, na verdade, pensa muito sobre a importância dos objectos, o que é certo, é que o aniversário dele está a chegar e eu estou feita num molho de brócolos para lhe satisfazer o pedido deste ano.
-Mãe, domingo levantas-te bem cedo e vais comprar um detetor de metais.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Quando é que me tornei tão transparente...

Conversávamos deitados na cama dele, foi um dia grande e cansativo, ficam sempre coisas por dizer e é na hora de sono que melhor consigo chegar a ele.
-Mãe, estás bem?
-Sim filho, estou bem.
-É que estás a rir para mim mas a tristeza está a sair dos teus olhos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Alguém?

Macaquita contava-me impressionada o acidente de mota a que assistiu do recreio da escola, contava com os pormenores todos, veio um carro, acertou no senhor da mota que gritou e depois levantou-se e depois veio uma senhora ajudar e o senhor do carro também saiu mas o senhor da mota não se magoou...Quando percebi que não tinha sido nada de grave, comecei na brincadeira.
-Ainda bem que não fui eu, teria sido bem pior.
-Oh mãe! Isso não se diz. Gostavas de cair de mota?
-Claro que não, por isso é que estou a dizer que ainda bem que não fui eu.
-Coitado do senhor...
-Coitado do senhor do carro, ficou com uma amolgadela.
-Pára de gozar. O senhor podia ter-se magoado.
-Era novo ou velho?
-Sei lá, era da idade dos senhores dos correios.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Ao nível do Albarran no dramatismo

-Que é que estás a fazer?
-A coçar-te as costas, não gostas?
-Gosto! - de seguida faz-me uma festa na cara e dá-me um beijinho no nariz. -Eu adoro ser teu filho e adoro quando tu és minha mãe... Ahhhhh, se tu não fosses minha mãe, eu andava por aí sozinho, sem nada, sem pai, nem mãe, nem irmã, nem família... abandonado!

Uma trabalheira...

Depois de os mandar deitar vezes demais, mudei o canal de televisão e lá foram. Resulta sempre. Deitei-me um pouco na cama de macaquito e de seguida fui aí quarto da pequena que, como sempre, começou a fazer todas as perguntas que ficam pendente durante o dia.
-Vá, chega de perguntas, demoraram 20 minutos a vir para a cama por isso hoje não há mais conversa. - digo-lhe.
-20 minutos? Isso são quantos segundos?
-Quantos segundos tem um minuto?
-60!
-Faz a conta, 60 vezes 20...
-Sim mas e um dia, quantos segundos tem?
-Se um dia tem 24 horas e cada hora são 60 minutos tens de multiplicar 24 vezes 60 para achares os minutos e depois multiplicas esses resultado outra vez por 60 para achares os segundos.
-Essa conta é muito difícil, ajudas-me?
-Então 24x60=1440x60=86400 segundos
-Ehhhhh,  então o ponteiro pequeno tem de dar essas voltas todas?
-Sim. - respondi-lhe a rir. - O ponteiro dos segundos dá 86400 voltas todos os dias.
-Coitado, isso é muito trabalho. Um ponteiro tão pequeno...

terça-feira, 25 de setembro de 2018

A caricatura perfeita

Fomos buscar umas coisitas ao supermercado, assim que entrámos macaquito corre para uma caixa atulhada de peluches do Gang dos Frescos e abraça-os a todos, faz um discurso para cada um deles, alto, muito alto, tão alto que passados uns minutos havia um grupo de pessoas à volta dele a rir de tanto disparate. Continuo as compras naquele corredor e quando acabo lá o convenço a vir embora. Chegados à caixa, explica ao funcionário que adora todos e cada particularidade daqueles bonecos mas vem embora apenas com os pacotinhos de pontos que, eventualmente, lhe poderão dar acesso ao objectivo final.
Sem abrir, segura-os na mão e entrega à irmã assim que voltamos a casa para que seja ela a abrir e colar os pontinhos na caderneta. Vou para a cozinha preparar o almoço e a dada altura, ele grita-me surpreendido da sala:
-Mãeeee, o avô está aqui! - por momentos fico confusa.
-Qual avô? 
-O avô C. - encosto-me ao balcão meio atordoada, penso para mim o que raio estará o puto a ver. Macaquito tem qualquer coisa de extrassensorial que faço por ignorar, muitas vezes consegue ver coisas e adivinhar outras duma forma que nunca consegui entender mas que sempre associei ao facto de ter um cérebro diferente dos demais.
-Não estou a perceber nada, macaquito.
Corre da sala até à cozinha e mostra-me as cartas.
-Está aqui mãe, nas cartas, o avô está aqui nas cartas. - olho para as figuras e as lágrimas quase me saltam. Ele tem toda a razão, o chef do gang poderia muito bem ser o meu pai. O mais engraçado é que o meu pai era o cozinheiro da família e chamávamos-lhe "Chef Silva".

domingo, 23 de setembro de 2018

Merece crédito pelo engenho

Pai macaco resolveu fazer mousse de chocolate, desvalorizando o facto de ter dado cabo da batedeira da última vez que a usou. Claro que as peças continuam no armário aguardando melhores dias para substituição (começo a perceber aquelas pessoas que guardam todos os tarecos, nunca se sabe quando podem fazer a diferença!)
-Então e agora como faço?
-Bates a mousse à mão, antigamente não havia batedeiras. -digo-lhe eu já adivinhando que havia de sobrar para mim. Fui à cozinha, juntei a quantidade de leite necessária e fui mexendo até me doer o braço.
-Vá, agora acaba que já me dói o braço.
Depois de experimentados todos os dispositivos eléctricos disponíveis na cozinha, desde a varinha mágica ao pé de puré e nada satisfazer os seus intentos, dou com ele a fazer isto...



Digam lá que o meu companheiro não é uma pessoa cheia de ideias?

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Luz

Nunca fui de desistir, quase dois anos volvidos recomeço tudo com a certeza de que nada será como era e sobretudo que será bem mais difícil prosseguir. Antecipo prazeres e sorrisos que podem nunca chegar, olho para o céu com outros olhos e parece-me ver mais estrelas. O que perdi, perdido foi, continuarei a escrever poemas de amor com o sorriso dos miúdos e continuarei a rir até doer a barriga com os disparates deles. Selo dois anos da minha vida, retirando apenas o que deles valeu a pena, as pessoas que me deram a mão e os degraus trepados a custo, abafo todas as perdas, amputo hipocrisias e esmago todos os desgostos.
Sigo mais uma vez em frente com a certeza de sermos ainda melhores porque se sobrevivemos a isto é porque somos do caraças. Fintámos a aflição com amor e abraços, somos mesmo do caraças!

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

À hora marcada

Depois de jantar.
-Macaquitos, vou beber café com a M., alguém quer vir?
-Eu vou mamã! - responde macaquito. -Tenho só de pôr o meu relógio. Posso levar o relógio?
-Claro, vai buscar para eu pôr.
Passado pouco tempo de estarmos no café, vem ao pé de mim. 
-Mãe, podes tirar-me o relógio?
-Posso mas porque é que o puseste?
-Para ter a certeza que chegávamos a horas!

Talvez importe referir que ele nem sabe ver horas nos relógios de ponteiros.

domingo, 12 de agosto de 2018

O trânsito no "homem" roubado

Disse-me 10 vezes ou mais, provavelmente foram muitas mais: "Tenho de ser entrevistado pela Inês Lopes Gonçalves!"
Obviamente... conseguiu!


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Quando crescer não quero ser

-Mãe, acho que já não quero ser carteiro.
-E já pensaste no que queres ser? Se bem que não tem pressa, tens muito tempo para decidir.
-Pois mas eu não quero ser carteiro, nem bombeiro, nem polícia, nem taxista... Acho que preciso da tua ajuda.
-E em que posso ajudar?
-Ajuda-me a decidir, preciso que me digas uma profissão que não dê muito trabalho, uma que não seja preciso fazer nada.



Estive para relembrá-lo disto mas resolvi deixá-lo decidir sozinho.


sexta-feira, 27 de julho de 2018

Gaba-te cesta

Macaquito passa tardes inteiras nas traseiras de casa a andar de bicicleta, consigo vê-lo da janela e muitas vezes dou comigo a apreciá-lo e às suas tentativas de acrobacias desajeitadas. Vale pelo esforço, afinal faz tão pouco tempo que aprendeu a andar sem rodinhas. Encontrei uma vizinha e diz-me ela assim:
-No outro dia fartei-me de rir com o teu filho.
-Então?
-Fui à janela e ele andava ali atrás de bicicleta a falar sozinho...
-Pois, o costume.  - digo eu a rir.
-A dada altura ele vem muito depressa, chega ao fundo, dá um saltito com a bicicleta e diz muito alto. "Ai, ai que eu sou tãaaaoooo talentoso!"

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Nunca imaginei perder tudo ou quase tudo. Embarco em pensamentos surreais de como tudo voltará ao que era mas no fundo sei que nada voltará a ser igual, perdi a confiança nas pessoas, perdi dias de vida, dias felizes que eram quase todos, perdi o sono e a sanidade, perdi estabilidade, perdi o meu pai, perdi tranquilidade e o sorriso. Vou a meio da vida e ainda me surpreendo com a maldade e desonestidade das pessoas, deveria saber melhor... As tragédias podem ensinar-nos muita coisa mas já não tenho muito a aprender com a perda e longe de mim pensar que a infelicidade é um privilégio mas se nunca tive dúvidas com quem posso contar, neste momento tenho a certeza que tenho as pessoas certas ao meu lado.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Oito e uns binóculos

Nem preciso de a consolar, porta-se que nem gente grande quando lhe explico que neste aniversário não poderei satisfazer-lhe os pedidos, aliás tem um coração e a maturidade que falta a muita gente grande. São oito, só faz oito e tudo o que lhe desejo é que seja sempre feliz, suponho que será pois nem nos momentos mais difíceis perde o sorriso. E que bonito é o seu sorriso!



segunda-feira, 9 de julho de 2018

Dúvidas

Falhei o início da conversa, assim como, não percebi que programa estavam a ver na televisão mas a arte com que ele leva o burro ao moinho é de valor.
...
-É um elefante! - grita macaquito.
-Não pode ser, é uma cobra. -responde a irmã.
-Não, não, é um elefante!
-Eu acho que é uma cobra com uma manta.-diz ela menos segura.
-Uma cobra com uma manta... Não! É um elefante.- insiste ele.
-Macaquito, tu não vês que não tem tromba? Não pode ser um elefante. É uma cobra daquelas que parece que tem uma manta no pescoço.
-Então?! É um elefante sem tromba!

Cá eu não acho nada mas que fiquei curiosa, fiquei.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Contrato sem termo

Chego a casa e o pai conta-me que durante a manhã macaquitos se tinham desentendido por causa da consola e na sequência do desentendimento Macaquito" afiambrou" a irmã.  Pouco depois ele chega da rua.
-Mamãaa, chegaste!
-Dá cá um abracinho... hummm, tão bom. E então, como foi o vosso dia? O que fizeram?
-Jogámos consola, andei de bicicleta, a mana jogou à bola no campo....
-Que bom! E correu tudo bem? - de imediato fica com um ar constrangido.
-É melhor perguntares ao pai...
-Não me parece, se alguma coisa correu mal eu quero que tu me contes.
-Sabes, a mana estava a jogar e não fez o jogo que eu queria, eu enervei-me e bati-lhe. Desculpa...
-Não tens de pedir desculpa a mim. Sabes que isso não se faz, que é errado, eu também me zango e não te bato. É normal ficares zangado e enervado mas não resolves os problemas a bater. Se isso tornar a acontecer, eu vou zangar-me a sério contigo.
-Sim mamã, desculpa! Mas... mas... Só há uma coisa que eu não entendo...
-O quê?
-Porque é que contrataste a mana?- fiquei a olhar para ele com cara de "hã?", ele prosseguiu com a questão. - Porque é que a contrataste? Se já me tinhas a mim, o teu filho mais velho e preferido, não a devias ter trazido cá para casa.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Volto já!

Ando aqui com uma dificuldade em "postar", não é que não tenha mil coisas para contar, só que metade são agruras e essas nem às paredes me apetece confessar. A outra metade, as coisas boas, as divertidas, as que me enchem de orgulho, estão todas em vídeo e contadas não têm graça (até têm, eu é que tenho dedos preguiçosos).

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Moral do problema

A matemática pode ser divertida. Para mim foi, já macaquito estava um pouco indignado e resolveu mostrar isso. 


quinta-feira, 31 de maio de 2018

As prioridades mudam

Por volta dos três anos macaquita, de mão na cintura, pediu-me um telemóvel, um computador e uma máquina fotográfica.
-Cor de rosa, com brilhantes! - rematou.
Esta semana pediu-me, caso eu pudesse, umas chuteiras, um equipamento completo de futebol e uns binóculos.
-Pode ser para os meus anos ou quando puderes.
Mudou muito, é estranho dizer que já sinto saudades das coisas que mais me irritavam quando era uma bebé pespineta. Continuo sem perceber para que quer os binóculos mas um amigo meu diz que é para ver o Mundial de Futebol, afinal a Rússia é longe.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Engomo o passado sem tirar vincos, nem rugas, as marcas são para preservar. Engomo-o na esperança vã de o esticar, de o prolongar já que o relógio se nos parou de repente. Tarefa árdua e inútil, restam-nos as memórias e as marcas que deixaste, restam-nos as saudades das tuas mãos, do colo que davas, das histórias inventadas ao minuto com enredos intrincados e divertidos. Restam-nos as saudades.

 

segunda-feira, 28 de maio de 2018

"Eu não te quero perturbar." Hã?!

Hoje fiz panados de peru (sem glúten) para o jantar porque precisava de qualquer coisa que macaquito pudesse comer frio amanhã, coisa que raramente faço por não gostar do cheiro em casa e especialmente porque não gosto de os alimentar com fritos, como tal, a festa à mesa foi tão grande que pareciam estar a degustar lagosta. Macaquita larga o garfo e começa por dizer.
-Mãe, mãe, na festa do Martim... - o entusiasmo inicial desvaneceu-se de repente. 
-Então?
-Olha mãe, eu não sei se devo dizer isto. Eu não te quero perturbar. - faz uma pausa, põe uma mão no meu peito e outra nas minhas costas. 
-Fala! Agora estou curiosa.
- A mãe do Martim fez uns panados na festa de anos dele, estavam tão bons, comi tantos, uns 5 ou 6, ou mais, acho que comi 8. Eram mesmo bons... estes também estão bons.... mas os da mãe do Martim...




domingo, 27 de maio de 2018

A necessidade aguça o engenho (ou a parvoíce...)

Depois do sarau e como macaquito não ia dormir em casa.
-Mamã, posso dormir na cama do mano?
-Claro, vai buscar a tua almofada e vai para a cama que eu vou já ao pé de ti.- fui ao quarto e acendi a luz de presença como faço habitualmente para macaquito.
-Não gosto nada de dormir com luz.
-Oh, desculpa. É o hábito, eu apago já.
-Não, deixa, não faz mal... 
-Então eu deixo até adormeceres e quando me for deitar, venho aqui apagar.
Por volta da uma da manhã, passei no quarto para apagar a luz e estive a rir-me sozinha até conseguir adormecer.  Querem saber porquê?! Estava ferrada a dormir nestes preparos. 




sábado, 26 de maio de 2018

Cheio de boas intenções

Sarau na escola, macaquito entra na terceira apresentação que consistia numa dança em roda, rápida e com muitos movimentos diferentes e que obviamente obriga a muita coordenação motora. Como habitualmente troca-se todo e faz tudo atrasado ou ao contrário dos demais. Na plateia vou brincando com macaquita.
-Olha o mano, todo baralhado. É mesmo "trambalazana", não acerta uma. - digo isto entre risos e palmas, costumo brincar com as dificuldades dele mas o orgulho que sinto só de o ver tentar mal me cabe no peito.  O pai de outra criança, sentado ao nosso lado, que não nos conhecia mas estava atento  (não o suficiente...) às minhas brincadeiras com a miúda e por consequência à "trambaladança" de macaquito, a dada altura decide intervir num tom paternalista.
-Eu acho que o miúdo tem um problema, deve ter algum tipo de deficiência. 
-Tem, tem... é meu filho! 



sexta-feira, 18 de maio de 2018

A mãe que sou devo-o a ti

Não sei de que modo amenizar a dor que me corrói por dentro, tento pensar que nada acabou, que ainda o tenho do outro lado da linha de cada vez que macaquito agarra no "telemóvel fixo" e liga o número de casa dos avós. O lado realista leva-me a pensar que já não o verei chegar de máquina fotográfica e câmara de filmar na mão para cada audição ou festa de fim de ano. Ontem tive vontade de chorar no ensaio de orquestra, engoli as lágrimas e puxei pela cabeça para me lembrar de qualquer coisa que me fizesse rir e evitasse ter de sair atabalhoadamente pelo meio das crianças que compõem o grupo. Lembrei-me de muitas histórias de quando eu era tão pequena quanto macaquito é agora, naquela altura em que as máquinas não eram digitais e todas as fotos passavam pelo escrutínio do fotógrafo lá da terra. Imagino que muito se havia de rir o Sr. Horácio com a falta de habilidade dos conterrâneos na arte de fotografar e com todas as coisas invulgares que lhe passavam pelos olhos. Como daquela vez em que rumámos a norte e passeámos por Trás-Os-Montes antes de seguirmos para o Gerês, num desses longos dias de aventuras que por mais anos que tenha nunca irei esquecer, não recordo bem se ainda tínhamos a Dyane ou o Visa 10E, fosse qual fosse seguia carregado até ao tejadilho e o espaço dava apenas para nos sentarmos encolhidos entre almofadas e roupa de cama, sei que descíamos uma estrada montanhosa onde não havia muita floresta e os rochedos ganhavam terreno às árvores vereda abaixo, a minha mãe teve de parar para fazer chichi, longe estava ela de saber que quando fosse buscar as fotografias ao Sr. Horácio, veria o seu rabo branco emoldurado por calhaus no meio de todas as outras fotos de má qualidade mas que ainda guardamos religiosamente. Parece que ainda a ouço, meio incrédula, meio histérica, de faces rosadas de vergonha ante o sorriso malandro do Sr. Horácio.
-Eu não acredito que o teu pai fez isto! - e nós ríamos a bandeiras despregadas perante a foto tirada às escondidas que permanece misturada até hoje com as outras dentro dos envelopes amarelados num saco de plástico velho cheio de boas recordações.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Nunca deixarei de me rir

Domingo passado foi a primeira comunhão ou "comunião", segundo macaquito (o que faz algum sentido...) da minha sobrinha. Eu não pude estar presente mas o relato dos acontecimentos chegou rápido, especialmente o do final da cerimónia, quando macaquito roubou o microfone da mão do padre e aconselhou todos os "comuniados".
-Desejo a todos um resto de bom dia, espero que tenham gostado e não se esqueçam de portar bem, fazer os trabalhos de casa e ajudar o senhor padre na igreja!
E depois o senhor padre tentou dar-lhe um abraço mas já não conseguiu porque ele raspou-se assim que percebeu que a avó estava a levantar-se para ir embora. 
Ela diz que não mas eu penso que estava a fingir que não o conhecia.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Até já...

E agora? Com quem é vou contar para fazer franjas perfeitas?
Recuso falar em qualquer pretérito, perfeito avô, perfeito pai, sempre presente, para sempre parte daquilo que somos. Certeza tenho apenas que sabes o quanto te amamos e que aquilo que o teu neto viveu contigo não serão apenas memórias, serão lições de vida que farão dele um homem tão grande como tu és!

terça-feira, 8 de maio de 2018

Do dia que tirei para chorar

Gostava que me repetisses a frase que durante anos me ecoou na cabeça de tão mal que me soou na altura "És intransigente na educação dos teus filhos!", provavelmente nem foi a frase, foi o tom com que a disseste. Das poucas vezes que te senti zangado comigo, esta foi uma delas. Agora sou eu que estou zangada, nunca contigo mas com a merda da vida que nos espetou o dedo do meio em cheio no focinho.
Não sei se mais alguma vez te zangarás comigo e com a minha intransigência, prometo dar-te carta branca para me desautorizares as vezes que quiseres, prometo que nunca mais te direi que os estragas com mimo, peço-te apenas que não desistas do teu amigo inseparável, não o saberei consolar.

domingo, 6 de maio de 2018

Ninguém se riu... ou disfarçaram muito bem

Sala de espera de uma consulta menos habitual, várias pessoas a aguardar, macaquito brinca no chão enquanto conversa comigo. De repente levanta-se, chega-se perto de mim e diz.
-Mamã, posso perguntar uma coisa?
-Claro! - respondo-lhe.
-Eu vou ter pêlos na pilinha?
-Sim, claro que sim. Faz parte do crescimento, os meninos ficam com pêlos na pilinha e as meninas no pipi. - reparo que todas as orelhas estão no ar mas continuo a conversa tranquilamente tentando mantê-la entre nós dois.
-Mas eu não quero.
-Pois mas vais ter, é normal. Não te preocupes, depois habituas-te.
Sai do pé de mim, volta para a sua brincadeira na outra ponta da sala e grita de lá para mim.
-EU NÃO QUERO TER PÊLOS NA PILINHA!

quinta-feira, 26 de abril de 2018

O amor é gourmet

Desde que me lembro e quase invariavelmente o meu pequeno almoço são torradas e leite. Quando preparo torradas para mim e para macaquita escolho as mais branquinhas para ela e tiro a côdea, é assim que ela gosta. 
Na manhã de ontem, acordei e encontrei macaquito na sala a ver televisão, o resto da macacada dormia ainda, arranjei o pequeno-almoço só para ele, deixei-o comer na sala e fiquei com ele no sofá. Passado um bom bocado, macaquita acordou e veio dar-me um beijinho, desaparecendo de seguida. Algum tempo depois, aparece de novo na sala.
-Mamã, preparei-te o pequeno almoço.
-O pequeno almoço? Que bom, vamos lá ver isso. - segui-a até à cozinha. Em cima da mesa, uma caneca com leite achocolatado e um prato com duas torradas quase carbonizadas.
-Gostas mamã? As torradas estão pretas como tu gostas.
-Pois é, mesmo como eu gosto. - sentei-me e comi sem reclamar, estavam mesmo boas. 
O amor torrado sabe sempre bem.

sábado, 21 de abril de 2018

Crimes passionais

A minha ausência aqui prende-se com o motivo pelo qual me tenho ausentado também na vida de macaquitos, coisas boas porém. Em contrapartida, pai macaco tem recebido uma dose extra de vida familiar, mais refeições juntos, mais banhos, mais tpc's, mais passeios, mimos e obviamente, mais situações inusitadas que é o que acabo por sentir mesmo muita falta. Hoje quando foi buscar macaquito à escola, assiste a uma cena em que outro miúdo, agride macaquito com um murro na barriga, ali mesmo junto à entrada da escola. Como não sabia o porquê, não interferiu junto da outra criança e apenas tentou acalmar o filho que chorava copiosamente. O pai do outro miúdo, que pelos vistos até conhece pai macaco, veio ter com ele, pediu desculpa e explicou o sucedido. 
-Desculpa, a sério mas sabes porque é que foi? Foi por causa da Maria Inês, o teu filho andou de mão dada com ela e o meu (apaixonado) passou-se porque diz que ela é a namorada dele.
De seguida, obrigou o miúdo a pedir desculpa que pediu, contrariado, e o nosso desculpou.
E enquanto o pai me contava isto, macaquito exibia um sorriso malandro e vitorioso e ainda me acrescentou os pormenores de ter tomado a mão de dama alheia. E ao que percebi, ela é que lhe deu a mão, ele apenas não a recusou. 

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Dias bons

Chegar a casa, beijá-los já na cama e depois ter isto à minha espera...


No dia anterior, uma bolacha personalizada pela irmã, não tive tempo de fotografá-la mas era boa ;)

segunda-feira, 9 de abril de 2018

O nosso universo

Quis o calendário escolar que hoje recomeçasse a escola após um período de quinze dias de maus hábitos de sono, zero reclusão, zero regras, enfim, quase zero rotinas ao contrário do habitual durante o tempo de aulas. 
Quis o ministério da educação que as crianças voltassem à escola para gaúdio de  alguns pais e verdadeira tortura para outros como eu que desfrutam de uma tranquilidade familiar quase absoluta quando os rebentos estão de férias pois se não há obrigatoriedade de ir dormir cedo, há dias de mimo em casa dos avós, há passeios infindáveis pelo campo, então não há crises existenciais (a não ser na hora de tomar banho, coisa que os meus filhos fariam de bom grado apenas de quinze em quinze dias caso eu o permitisse).
Quis a sociedade que as férias acabassem mas não quis macaquito, portanto hoje, o meu dia e o dele, especialmente o dele, foi um tormento, choro para acordar, choro para o pequeno-almoço, choro para vestir, lavar dentes, calçar, pentear, sair de casa, entrar na escola, choro na hora (e meia) de almoço, choro para entrar de novo na escola e um sorriso de orelha a orelha, assim que me viu à saída das aulas.  
-Têm TPCs? - pergunto ainda o carro.
-Não! - responde macaquita.
-Eu tenho de estudar e acabar um trabalho. - responde ele e eu começo logo a imaginar a próxima sessão de choro.
Ainda durante o lanche vai à mochila, tira o caderno e mostra o que tem para fazer. Estudar o sistema solar e preparar uma apresentação oral. No mesmo momento tive a certeza que conseguia fazer aquilo sem recorrer a psiquiatras.
Ele era o sol e macaquita a terra, movimentos de rotação e translação no meio do quarto, os planetas distribuídos pelo universo que contempla bananas e outras frutas alien, uma barrigada de risota e a matéria sabida na ponta da língua.
É por dias destes que nunca desisto.


quarta-feira, 4 de abril de 2018

"What we've got here is failure to communicate"

Acho que tenho um problema de comunicação, ora se repito a mesma coisa vinte vezes, ou cem, ou mesmo mais. Fico sempre na dúvida se não me está a ouvir ou se não compreendeu ou se pura e simplesmente não está para aí virado, começo a acreditar cada vez mais na última hipótese. Gosto que tome banho sozinho quando temos tempo para isso, no entanto, tenho de ficar do lado de fora a explicar como fazer, ordem a ordem para não baralhar muito.
-Macaquito, ainda não molhaste o cabelo todo. Vá atrás também e agora atrás das orelhas... sim, do outro lado... boa. Agora pousa o chuveiro pega nesse frasco em cima e põe champô. Não, na prateleira de cima, nãaaaaaao, a de cima, sim esse. Só um bocadinho, nãaaao... isso é demais. Metade para o chão, não faz mal, agora esfrega, mais para cima, atrás das orelhas... das duas orelhas... direita.... esquerda.... pronto, está bom. Pega no gel de banho... não, esse é o frasco do champô, o do lado com a tampa azul, isso... despeja um bocadinho. Menos, menos, menos, vais entornar... ok, não faz mal. Esfrega bem, pescoço, braços, debaixo dos braços, rabinho, pilinha...
-Rabinho? Quem tem rabo são os cães, eu tenho cu!

Obrigada pai macaco, depois explicas-me como passar tão bem as mensagens....

terça-feira, 3 de abril de 2018

Curto-circuito

Dou comigo a arrancar estrada abaixo, máquina fotográfica às costas e os putos em modo pedinte para passeio pelo campo. Pelo caminho encontramos cavalos, dentro da cerca, aproximam-se como se nos viessem cumprimentar, os miúdos e a avó dão-lhes ervas frescas que apanham do lado de cá e eles deixam-se presentear com festinhas no focinho. E eu, armada em fotógrafa, faço por guardar um punhado de memórias em formato digital. Até aqui tudo bem mas eu sou aquele tipo de pessoa que não vai a lado nenhum que não aconteça uma merda desgraça qualquer, por isso, naquele momento em que estou tão entusiasmada, a tirar a foto, aquela que parece saída das cenas do National Geographic, me esqueço dos 30 mil avisos que tinha feito aos putos e encosto o braço à cerca eléctrica e apanho um choque tão grande que fiquei com o braço dormente e quase posso afirmar que me saíram faíscas pelas orelhas. 




Mas a foto ficou bonita, hein?!  

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Não sejas pedra!


Podia começar por explicar o que é o autismo mas não arrogo esse conhecimento porque cada pessoa com esta perturbação é uma pessoa diferente, em comum os autistas têm apenas o diagnóstico. Explico-vos o que é viver diariamente com uma criança nessa condição, o meu filho cujo autismo é parte do que é e condiciona a forma como se relaciona mas que de forma nenhuma o define.
Sair de casa é uma odisseia, é nunca saber se vai correr bem ou mal porque em casa ele é geralmente tranquilo, acontece que na rua a quantidade de estímulos a que é exposto podem dar azo a reacção fora do comum, como chorar, correr ou gritar. Claro que isto não é assim tão óbvio, porque não é sempre igual, há aqueles dias em que ele está agitado antes de sairmos e a rua funciona como uma espécie de tranquilizante, há os outros dias em que tudo está radioso na tranquilidade do lar e de repente, o céu desaba. Há também as mudanças de humor nos espaço de segundos e sem motivo aparente. Por isso, sair de casa é sempre uma incógnita e um desafio constante à minha capacidade de controlo e gestão de situações caóticas. No nosso canto as coisas são mais fáceis, não porque estas mudanças súbitas não existam mas porque as rotinas, o espaço controlado ajudam-no a regular-se e o não ter 50 pares de olhos a castrar, ajuda-me a mim a regular-me, conseguimos ultrapassar a maioria das "crises" com um abraço a dois.

Podia continuar, mas isso é o que faço aqui todos os dias, claro que privilegio as coisas divertidas, não que a nossa vida seja um mar de rosas mas porque isso é a nossa essência, é o que somos, felizes por estarmos juntos contra todas as pedras que se atravessam no nosso caminho. 
A mensagem que quero deixar hoje, dia mundial da conscientização do autismo, é que não sejam pedras, não atrapalhem o caminho de quem já tem tanto por que lutar. Para nós, que convivemos com o autismo todos os dias, a luz azul está sempre acesa e precisamos que as pessoas se lembrem de nós nos outros dias do ano, que  NÃO TEORIZEM, NÃO JULGUEM, NÃO EXCLUAM...
Sejam pacientes, façam perguntas, respeitem a diferença, criem uma oportunidade de trabalho, ajudem um cuidador ou partilhem um abraço, às vezes é só do que precisamos... de um abraço.


sexta-feira, 30 de março de 2018

Explosão de cor

No meu sonho era tudo tão legítimo, acordei com a sensação de que tudo estava bem. Não estava, não interessa, a primavera trouxe-nos um passeio a quatro e isto.


segunda-feira, 26 de março de 2018

Conveniente

Macaquitos estão nos avós, telefono para matar saudades e tanto um como outro me despacham à velocidade de "900 abraços e 1000 beijinhos". Pudera, com a boca cheia de batatas fritas (que em casa raramente comem), nem quiseram falar grande coisa, quando me apercebi já a minha mãe estava ao telefone para me dizer que dormiram muito bem e se portaram ainda melhor e todas aquelas coisas que os avós dizem mas em que só devemos acreditar a 50%, eu cá creio na parte do dormiram bem.
A meio da conversa comigo, a minha mãe dá um grito:
-Aaai, macaquito, que grande pisadela! - e ouço também o pedido de desculpa a resposta dele do outro lado.
-Não é bonito fazer queixinhas à mamã, avó. A mãe nem gosta...

quarta-feira, 21 de março de 2018

"Chega de tragédias e desgraças"

Ainda não me saiu da cabeça aquele momento, o momento em que, contra todas as minhas expectativas, subiste os degraus daquele palco, te apresentaste e à tua música e desataste a cantar. Confesso, que por mais que acredite em ti, naquele momento uma panóplia de cenas disparatadas me passaram pela cabeça, afinal quantas vezes já me fizeste rir com os teus despropósitos ou as tuas saídas inusitadas?
De repente dou comigo com uma câmara de filmar na mão, cuja bateria me esqueci de verificar e claro, sejamos realistas, estava descarregada mas que também não me serviria de nada com a carga toda pois que as minhas mãos tremiam mais que varas verdes.  Só ali percebi o quão nervosa estava mas rapidamente passei do estado de mãe neurótica ao de mãe arrebatada pela tua postura segura, pela tua voz bonita, pelo teu fado alegre e pelo teu vestuário demasiado composto apesar da gravata demasiado pequena mas azul, ninguém me tira que a vermelha é que ficava bem, e eu nem gosto de camisas e gravatas, mas azul foi a que escolheste, é a que escolhes sempre e fica-te mesmo bem.
Se não te tivesse, juro que só me restava a escapatória de vinho rasca e muito graduado para me fazer tão feliz. Mas esqueço a realidade que são as nossas tragédias presentes e fico-me fascinada pela tua vontade de vencer numa vida que nem sempre te foi generosa mas à qual te agarraste com mãos e pés fincados, deixando para segundo plano as tragédias e as desgraças.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Se o amor desse para medir




                                                                    O nosso teria 1,90m!

quarta-feira, 14 de março de 2018

"Life would be tragic if it weren’t funny."

Escolhi uma frase de Stephen Hawking, não por acaso, é uma homenagem ao homem que superou todas as expectativas, um brilhante exemplo de que as limitações não impedem ninguém de ter uma vida extraordinária ou de ser um contributo para a sociedade.  

A sala era o nosso lugar de eleição, forrámos o chão com tapetes de borracha, os brinquedos com sons e luzes, os livros sensoriais, tudo o que pudesse estimular fazia parte do nosso chão, paredes e móveis. Metade do dia era passado em terapias, as brincadeiras eram terapias, as palavras eram pensadas quase ao milímetro e já nem dávamos conta disso.
Ele nunca desistiu, nós nunca desistimos e continuamos a celebrar cada texto escrito pela mão dele, cada nota tocada no acordeão, cada pequena superação diária da mesma forma que celebrámos as primeiras vezes que se conseguiu sentar quase com dois anos ou o primeiro passo aos três.



Precisam-se de exemplos de superação, brindem-me com eles, mostrem que é possível. Contem-me histórias de solidariedade, de inclusão, de pessoas ou entidades que acreditam que não há limites e que qualquer pessoa independentemente da sua condição pode ter impacto na sociedade. Vamos mostrar que podemos ser uma sociedade justa, que luta pelos direitos da pessoa com deficiência, as barreiras físicas podem ser eliminadas mas de nada valerá se não eliminarmos o preconceito.

segunda-feira, 12 de março de 2018

"Usa a manga do meu pijama"

Naquela metade do coração onde estás, filha... Hoje do lado maior sendo que não há dia certo para o lado de cada um, há sempre variáveis, o que se portou melhor, o que me deu o abraço maior, o que está doente e precisa de um pouco de mais amor ou apenas porque sim. Dizia eu, antes de me perder em variáveis imensuráveis. Naquela metade do coração onde estás hoje, filha, alojou-se uma certa paz, uma certeza de que estou a fazer tudo bem e que posso um dia morrer descansada com a premissa de que criei uma grande mulher. A simplicidade infantil das tuas palavras mescladas com a perspicácia e o discernimento que falta a uma boa dúzia e meia de adultos, atraiçoa-me o bom senso e acabo contigo a limpar-me as lágrimas. És tão grande miúda, vou-me lembrar disso na próxima vez que fizeres disparate.

domingo, 11 de março de 2018

Como se pode viver devagarinho, assim sem pressa de chegar a destino nenhum, diluindo o tempo em coisa nenhuma, alimentando pequenas esperanças que se prolongam nos dias e que nublam os receios inerentes a uma vida cheia de nadas. Receita simples diria, permito-me preencher os vazios, que são tantos, com fantasias de crianças que são sempre de luz, de cor e gomas. É inventar outros sonhos, diferentes dos que tinha quando tudo corria bem, é não ter medo de os perder, os sonhos, nem deixar que a angústia prevaleça. É preencher o silêncio de músicas antigas, antes que este te perfure o juízo. É dançar a três na cozinha, extravasar os demónios com coreografias malucas que arrancam gargalhadas e corrompem as saudades. É esquecer o oportunismo de quem te comeu a carne e agora lança para longe os ossos e acreditar que os sonhos que agora se fazem esperar, se realizarão de mansinho, como um raio de sol que desperta envergonhado mas radioso e que os demónios que te consomem cairão em si de razão e se desvanecerão para te deixar renascer.





quinta-feira, 8 de março de 2018

Ninguém me convidou para jantar...

Eu não ia escrever nada sobre o dia da mulher mas uma pessoa recebe 300 mil mensagens com florzinhas e corações, a dizer coisas como És mulher e mãe, feliz dia da mulher e outras que tais e pergunta-se se é este o papel redutor que continuam a querer atribuir ao dia 8 de Março e a  todas as mulheres que lutaram e lutam pela igualdade de direitos? Sim? Então parem de comemorar!
Bem basta ter um filho que me responde (quando lhe pergunto se sabe o significado deste dia)  que:
-É o dia em que as mulheres vão todas para os restaurantes...

Em oposição aos dias tristes

Apesar da chuva, tenho quase tudo o que preciso para ser feliz, a felicidade são momentos, certo? Este é o momento em que mudamos de estação de rádio e está a dar a música preferida de macaquito.



Vá, pronto, eu sei que podíamos ir ao festival mas não precisam de ser tão generosos nos aplausos...

terça-feira, 6 de março de 2018

...tenho de parar de chover!

Tem chovido muito, tenho chovido muito, prefiro os dias de sol, aqueles que me enxugam as lágrimas assim que vos pego pelas mãos e saímos mundo afora, o nosso mundo é pequenino, apenas a nossa floresta. No nosso mundo pequenino as árvores são mais verdes, a terra mais castanha e o céu é claramente mais azul. Mas tem chovido muito, tenho chovido muito, o nosso mundo pequenino parece longínquo e eu nem sempre vos consigo pegar nas mãos. Na nossa floresta as árvores ainda não têm folhas, a terra transformou-se numa lama profunda, tão profunda que já não cheira a terra molhada e o azul do céu quase é sempre cinzento. Tem chovido tanto, tenho chovido demais, albergo a esperança da primavera que se aproxima, vou pegar-vos nas mãos, vou agarrar-vos num abraço, vou esperar pelo sol dessa primavera que se avizinha, por mais negro que esteja o céu não há tempestade que me subjugue, não há guerra que sempre perdure e não há memória que nunca esvazie. Tem chovido muito...



sexta-feira, 2 de março de 2018

Eu tive dois e custou um "cadito"

-Mamã, quando for crescida vou adoptar uma criança.
-Acho que fazes bem. Só queres adoptar?
-Não queres ser avó?
-Claro que sim. 
-Há muitas crianças que não têm pais, posso adoptar um bebé.
-Sim, claro que podes. É muito bonito pensares assim. - disse-lhe realmente orgulhosa do altruísmo dela.
-Pois, achas que vou deixar que me cortem a barriga ou ter um bebé pelo pipi?! Isso deve doer!

Dramas

Perto das 9 da manhã recebo uma chamada da professora de apoio de macaquito para, que se quisesse e pudesse, acompanhar macaquito e demais colegas à hipoterapia. Era um dois em um, podia vê-lo a montar e podia trazê-lo mais cedo para chegarmos a tempo à terapia ocupacional.
Nem hesitei, meti as rodas ao caminho e fui com eles. Fiquei encantada, nunca tinha visto macaquito a montar e fiquei estupefacta com as coisas que já faz, o desembaraço em cima da égua, a "volta ao mundo" (que consiste em rodar o corpo em cima da sela até ficar de novo sentado para a frente), andar a trote, a postura direita... vim deliciada e de coração cheio.
Assim que desmontou, viemos embora pois ainda tínhamos de ir buscar macaquita. Chegámos à escola bem perto da hora de saída e seguimos para o hospital. Estava tão entusiasmada com tudo o que vi que resolvi partilhar com macaquita.  
-Sabes macaquita, hoje fui ver o mano à hipo. Foi tão giro, ele já não tem medo nenhum.
-Oh! Eu também queria ir, porque não me levaste?
-Então filha, foi na hora das tuas aulas, acabámos de chegar. Era a única forma de chegarmos a tempo à terapia.
-Pois, é sempre assim, nunca posso ir contigo! Fazes coisas com ele e eu nunca posso ir, ele vai para os cavalos e para as terapias e eu tenho de ir para a escola, nunca me levas... - continuou o discurso num tom inflamado sem conseguir disfarçar o que era na realidade, ciúme e birra. Macaquito mantinha-se em silêncio mas claro tinha de intervir e fê-lo, assim que ela fez uma pausa para respirar.
-Pronto, começou o teatro! 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

A pedido da Palmier

Se a Maman de Palmier conseguir resistir a este pedido tão especial...




( O mais fantástico é macaquito assumir que Palmier é doida o suficiente para ter um burro no apartamento.)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Que aflição, macaquita.

-Mãe, amanhã tenho de levar fato de treino. Vamos ter educação física.
-À quinta? -  perguntei estranhando o dia.
-Sim, a professora disse que íamos treinar para a prova de aflição.
-Prova de quê? 
-Aflição. Deve ser porque como temos de correr, ficamos muito aflitas.
-Prova de aferição. A-fe-ri-ção, não é aflição.
-Ah! Já percebi. Pois... como temos de correr, podemos cair e ficar feridas. 
Depois de me rir um bocadinho lá expliquei o que quer dizer aferir.



domingo, 18 de fevereiro de 2018

Volta a França, aqui vamos nós!


Pode parecer quase nada, aprendi ao longo de dez anos que há lutas duras, que os sonhos são apenas isso, sonhos. Mas também aprendi a lição, que não há impossíveis. Este puto é a prova disso!



Tinha posto a fasquia nos 18 anos...

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Formalidade e seriedade que ele não brinca em serviço

Um dos professores da escola de música de macaquitos foi ao ATL da escola de macaquitos com umas alunas para tocarem para os miúdos. O professor meteu-se com macaquito que não o reconheceu fora do habitat natural. 
-Como é que sabe que me chamo macaquito?
-Então, conheço-te da escola de música.
-Pode dizer-me o seu nome completo? 
-Claro, sou ...... .......!
-Ah, já sei! Temos uma amiga em comum.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Declamar ou a ironia de amar

Gosto de pessoas que não sabem nada da vida, sei lá, gosto de ignorantes. Talvez me reveja neles, talvez não seja boa a falar das vidas das quais não sei absolutamente nada.
Gosto que me julguem, por aquilo que sou e especialmente por aquilo que não sou, gosto que me julguem por amar pessoas. Por ter coração e ele me aflorar à boca.
Gosto que ponham em causa as minhas capacidades cénicas, aquelas que nem são tão importantes como a minha capacidade de amar mas que me dão muito prazer, gosto que as julguem tão injustamente. Não sou dada a dramatismos, mas gosto de dramatizar e achava que o fazia bem, pelos vistos não, gosto mais de amar e para algumas pessoas amar pode ser uma fraqueza.



(Isto não é um post de São Valentim)


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Felizmente não vivemos em Bragança, é que já diziam os Xutos, são 9 horas de distância!

Os 5 minutos que levamos todos os dias a chegar à escola, são sempre repletos de parvoíce. Na pior das hipóteses porque macaquitos decidem embirrar um com o outro, habitualmente porque macaquito me pede para fazer par com ele na imitação de personagens da rádio ou dos desenhos animados. Como são 5 minutos, acaba por ser um bom exercício de relaxamento. O problema põe-se quando as viagens são maiores, ele não se cala um minuto e não aceita nãos como resposta.

Sinopse da última viagem a Lisboa:

-Mãe, agora eu sou o Bruno Aleixo e tu fazes de Busto.
-Mas eu não sei as falas...
-Eu ajudo, não te preocupes!

15 minutos depois:

-Agora és o revisor do Comboio dos Dinossauros, eu sou o Dudu.
-Ok. - digo eu. - Vou começar. "Túnel do tempo, vamos entrar no túnel do tempo. Próxima paragem: Cretáceo Inferior!"
-Não, ainda não é agora, só quando passamos debaixo das pontes....

10 minutos depois:

-Eu sou o Ryder e tu és o Rocky da Patrulha Pata.
-Ehhhhh, eu não quero ser um cão.
-É só a brincar, vá, tu consegues mãe.
-Ok mas é a última, a partir das portagens há trânsito e eu tenho de me concentrar na estrada. - digo na esperança de me safar mas ele não desiste.

Outros 10 ou 15 minutos:

-Vamos jogar ao Carteiro Paulo, o episódio da lavagem dos carros
-Eu sei lá qual é esse episódio!
-Eu ajudo, as falas que não souberes eu digo baixinho. - de notar que ele sabe as falas de cada personagem, de cada episódio, de cada desenho animado, de cada canal infantil...
-Olha, eu sou o gato. - penso para mim que sendo o gato só tenho de miar, nem tenho de prestar muita atenção às falas.
-Ok, eu sou o Paulo: "Carteiro Paulo, os rolos da lavagem do não-sei-quantos" Tuuu, tuuuuu (som de telefone a chamar). Ah, olá Bento, queres que vá buscar uma encomenda onde?

 (Silêncio da minha parte, afinal sou o gato).

-Bento, Bento, estás a ouvir?

 (Continuo em silêncio)

- Bento? .... .... .....  MÃE, IMPORTAS-TE DE FAZER DE BENTO?
-Mas, mas... eu sou o gato...
-O Kiko só mia, não me digas que não consegues fazer outra fala??!

Eu podia dizer "desisto" mas ele nunca consentiria. Também vos podia contar quase tudo da hora e meia de viagem (excepto as falas) mas não vos quero roubar muito tempo.


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Vou-lhe pedir que me reescreva o currículo

Entramos na farmácia, cheios de pressa e claro, apesar dos vários funcionários ainda estavam algumas pessoas à espera.
-Boa noite, como estão? Ahhhhh, espero que estejam bem... Eu estou bem, sou o macaquito e aquela é a minha mãe. - as funcionárias que o conhecem, sorriem, já estão habituadas. O resto da clientela, esquece as maleitas por um momento e soltam uma gargalhada.
-Sabem? Eu adoro a minha mãe, é a minha pessoa preferida e cuida tãoooooooo bem de mim. Faz o jantar, dá-me banho e trata de tudo lá em casa, até "passa-ferro".
Se eu fosse um medicamento, não tenho a menor dúvida que seria um êxito de vendas.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

domingo, 28 de janeiro de 2018

Quem me dera

Percorrer as calçadas do castelo que já conhecemos de cor, roubar limões e alfazema que nos perfumam os bolsos, seguir pela mata contigo agarrada ao meu vestido nas subidas e pela mão em cada socalco lamacento. Ao fim de duas horas, perguntas se é sábado ou domingo. Domingo, digo-te sem hesitar e tu respondes "faz com que não acabe" como se  me fosse possível descartar o calendário. O máximo que posso fazer é guardar todos os minutos dentro da máquina fotográfica, se pudesse parava o relógio e guardava-te também, assim pequenina.



quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O melhor de mim é deficiente, não tenham medo de dizer a palavra, vá... repitam comigo DE FI CI EN TE

Ninguém está preparado para ter um filho deficiente. Honestamente não sei o que odeio mais, se a minha célere admissão que andei 9 meses errada (ninguém imagina que me custa bué assumir que me enganei) e que ao invés da perfeição do azul clarinho que não pintei nas paredes, recebi de presente um bebé com uma doença rara e muiiiiiito esquisita e que agora tinha de gostar dele na mesma e olhem... gostei! Se aquela coisa que as pessoas que não têm bebés esquisitos dizem " tu és muito corajosa, és uma guerreira, eu não sei se seria capaz..." e eu fico a olhar com uns olhos mais estrábicos do que os olhos de macaquito lá por volta dos 5 meses (sim, estrábico e quase cego, sem visão periférica e a três dimensões) e penso mas não digo "Claro que és capaz, colocá-lo no lixo não é opção! E os teus ovários não dão garantia, muito menos aceitam devoluções." 
Ninguém está preparado para ter um filho deficiente. Mas aquela coisa da auto-comiseração ou de fingir que não percebes (juro que tentei essa, shiuuuu) que o teu filho é anormal apesar de ter 10 ou 11 meses e não segurar a cabeça, não funciona. Primeiro porque ele já usa óculos e as pessoas tendem a aproximar-se do ovo, onde o carregas sempre porque ele não segura a cabeça, nem as pernas, nem nada que seja suposto segurar, só para dizer "coitadinhooooo" ou "ele não vê bem?" e tu respondes "Claro que vê, isto é uma espécie de baby power, ele não fala à frente de estranhos mas pede-me sempre os óculos radicais e o gel no cabelo antes de sairmos de casa, só para o style, é o que diz." E em segundo, porque tens sempre amigos que são.... médicos, filhos de médicos, chico-espertos ou apenas pessoas que sabem como é suposto um bebé comportar-se nas 1500 etapas diferentes do desenvolvimento infantil e uma das coisas que não é suposto aos 10/11 meses é dizer uma catrefada daquelas palavras difíceis como gato, rua, Rita, Romeu, etc e não conseguir dizer mamã ou papa (desenganem-se os pais modernos, o que os bebés dizem é papa, não é papá! A menos que o papá tenha mamas e leite nas mamas). Tomem!
Ninguém está preparado para ter um filho deficiente. Assevero que quando levei um matulão com 350 kg para a creche, lindo, enorme para os seus 20 e coisa meses mas que não andava e mal falava (falar não é dizer palavras difíceis, ou os números, animais e cores em inglês, é juntar 2 ou 3 palavritas) e confrontada com todos os outros putos da mesma idade ou mesmo mais pequenos, ali faladores, corredores, cheios de gracinhas e merdinhas que os pais normais gostam de nos contar esfregar na cara, pensei para comigo que se calhar o melhor era levá-lo de novo para a ama, onde apenas era comparado com o gato e mesmo o gato não se misturava muito com ele. Mas enfrentei o touro pelos cornos e ensinei uma catrefada de gente que ter de fazer 30 mil terapias em casa e fora dela, gastar cada tostão amealhado, passar noites inteiras a pesquisar na internet "1001 formas de dar autonomia a uma pedra", podia ser muito gratificante e que afinal o fim do mundo não tem o nome duma doença qualquer, nem mesmo quando começas a suspeitar que há mais donde aquela veio ou mesmo mesmo quando as tuas suspeitas se verificam.
Ninguém está preparado para ter um filho deficiente. Não me cabe julgar aquelas pessoas que acham que sim mas acho que é mais fácil ir entranhando a coisa e quando falhamos redondamente nesta coisa de ser mãe de deficiente, pelo menos temos desculpa, "Eh pá, não estava preparada para isto!" E quando falhamos nas outras partes, aquelas de ser só mãe (festas de anos perfeitas com cupcakes e merdas a condizer, folharecos, fotos no FB dos boletins de notas, matchy-matchys e afins) temos sempre desculpa "estava ali a ser guerreira e corajosa que isto de ser mãe de deficiente é coisa para dar muito trabalho..." e pronto, tudo desculpado.
Ninguém está preparado para ter um filho deficiente e autista. Juro, que se me tivessem perguntado, eu dizia "Naaa, deixe estar, fica para outro dia." mas ninguém me perguntou e por isso, agora que sou mãe de um filho maravilhoso, cheio de pinta (é assim que se diz, não é?!), lindo, divertido, inteligente e preguiçoso, teimoso que nem um burro mas meigo e honesto, digo-vos do fundo deste coração inchado de orgulho " Não tenho para a troca, arranjem o vosso deficiente que este será para sempre parte daquilo em que me tornei."

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Ser crescida

- Mamã, a escola ao lado da nossa é para os meninos do 5º ano, não é?
- Sim, pertence ao mesmo agrupamento.
- E o mano vai para lá para o ano?
- Se tudo correr bem vai, se estiver preparado.
- Eu acho que ele não está preparado, é melhor ele não ir.
- Logo se vê, ainda falta muito para acabar o ano.
- Pois mas eu tenho medo que ele vá, ele até pode estar preparado para as aulas mas tenho medo que lhe batam ou que gozem com ele.
Partilhamos exactamente as mesmas preocupações, inquieta-me perceber que o fardo, que lhe passo involuntariamente, seja talvez demasiado pesado.  Queria agora que ela vivesse a plenitude dos seus 7 anos, que fosse só criança ao invés de ter de gerir medos e emoções que não lhe estão destinados. A dada altura da sua pequena vida, achei que lhe devia explicar por que raio é que tolerava certos comportamentos do irmão e não a ela, expliquei-lhe também que ela deveria ser mais tolerante com ele mesmo que recortasse tudo mal ou não soubesse desenhar uma casa, ela teria uns 4 anos e respondeu-me que tinha entendido tudo, que o irmão "tinha uma doença, na cabeça", não foi nada do que lhe disse mas foi assim que ela entendeu. Nesse dia sorri, achei graça à sua percepção, longe de mim imaginar que nesse dia lhe vesti um colete de areia, daqueles que tanto se fala agora, que são bons para os meninos como o irmão e que pesam 7 quilos, só que o colete não lhe deu apenas informação proprioceptiva, criou-lhe um vínculo, uma imposição de maturidade, uma obrigação que eu nunca quis que tivesse, ou pelo menos, não tão cedo. 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Doces conversas

Ao deitar:
-Mãe, como é que nasce o pão?
-A sério macaquita? Nem acredito que me estás a perguntar uma coisa dessas. O pão não nasce, faz-se com farinha, água e fermento.
-Siiimmmm, eu sei mas donde é que vem a farinha.
-Dos cereais, o que nós comemos, por exemplo, é de trigo. O mano come de milho, arroz...
-E o trigo vem de onde?
-É uma planta, lembras-te do milho que plantaste? No final apanhaste uma maçaroca com muitos bagos. O trigo não é bem igual mas também dá uns grãos que depois são moídos para fazer farinha.
-Ah, então e o açúcar?
-Vem da cana-do açúcar que também é uma planta. E agora já chega, toca a dormir que o mano também quer um miminho. Amanhã mostro-te as plantas no computador para veres como são os grãos, as canas...
Deito-me ao lado dele e mais um inquérito.
-O que é que estavas a falar com a mana? Nunca mais vinhas.
-Ela estava a perguntar-me como nasce o pão? - rimo-nos os dois.
-Ahhhh tontinha, o pão não nasce.
-Sim, foi o que lhe estive a explicar.
-E o que é que ela perguntou mais? - conhece-a bem e sabe que a conversa nunca fica por ali.
-Tanta coisa. Depois dos cereais perguntou-me donde vinha o açúcar.
-Do açucareiro, claro!

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Super nada

Não vou esmiuçar o que já foi espremido e exprimido net afora. Tenho a legitimidade que me quiserem dar no que concerne a educação de crianças, as minhas crianças. Não tenho intenção de dar opinião sobre a educação que cada um dá aos seus filhos porque me irrita sobremaneira que o façam em relação aos meus. Se me pedirem um conselho, eu dou, sem julgar. 
Noutro dia dei uma galheta na minha filha porque me faltou ao respeito pela primeira vez em 7 anos, nada de grave por sinal, apenas um "nanananannana" quando lhe chamava a atenção, a minha mão saiu disparada e acertou-lhe na bochecha de raspão, arrependi-me no segundo seguinte, ela também. Engoliu as lágrimas durante 10 minutos e a seguir pediu-me desculpa, desculpei. Não lhe pedi desculpa mas não engoli as lágrimas, ausentei-me apenas o tempo suficiente para que não as percebesse. Senti-me durante um dia ou dois a pior mãe do mundo, não por lhe ter dado a galheta mas por ela achar que me podia faltar ao respeito.

domingo, 14 de janeiro de 2018

2 Rodas 0 Cérebro

Os meus filhos não sabem andar de bicicleta sem rodinhas, a macaquito  até desculpamos por todas as questões relacionadas com desenvolvimento, motricidade, etc. Já ela não tem desculpa, houve uma altura, bem mais pequena que até arriscava e esteve quase lá, depois assustou-se ou magoou-se ou preguiçou, o que é certo é que ainda não sabe mas tem vontade.
-Tens de treinar o equilíbrio, muitas e muitas vezes até conseguires. - dizia-lhe o pai ao almoço. - Quando deres por ela estás a andar.
-Quando der por ela? - perguntou confusa, nunca entende este tipo de expressões porque interpreta tudo à letra.
-É maneira de falar, quando menos esperares, consegues andar sozinha.
A seguir ao almoço, lá foi ela para o quintal, treinar na bicicleta sem rodinhas. Os avós chegaram e enquanto macaquito foi dar um passeio com o avô, eu e a avó conversávamos junto à lareira.
-Mãe, mãe, tu não vais acreditar. - entra de rompante na cozinha, completamente histérica. - "Eu dei por ela" e consegui andar sozinha.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

No fundo só os gatos importam

-Sabes mãe, ser bombeiro afinal não é assim tão fixe. Acho que já não quero ser bombeiro.
-Então porquê? Andas indeciso outra vez?
-Os bombeiros só salvam gatos... e apagam fogos. Não fazem mais nada fixe. Acho que quero mesmo ser carteiro.
-Humm, carteiro. E o que fazem os carteiros assim tão fixe? - pergunto.
-Ooohhh mãe, entregam o correio. Mas também podem salvar gatos!

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Depois das cenas cómicas na sala de espera e antes da cantoria no corredor de saída

Uma consulta, num consultório enorme com duas valências, de um lado está macaquito a ser visto pelo médico e do lado oposto, um outro menino com os pais a fazer avaliação com as técnicas. Até aqui, tudo normal, o que não acho nada normal mas compreendo tão bem, é o progenitor da outra criança, não ter prestado atenção nenhuma à avaliação do seu próprio filho porque não tirou os olhos de macaquito e ria à gargalhada com todos os disparates que ele foi debitando enquanto o médico tentava fazer da consulta uma coisa séria mas falhando redondamente. 

Tão crédulo

Após uma noite de 4 horas e meia, mal dormidas, seguimos viagem até Lisboa para mais uma consulta, não se cala um minuto e não há sono que resista a tanta tagarelice. Nevoeiro cerrado até Vila Franca, ao chegarmos à zona do aeroporto, o trânsito em pára-arranca, por coincidência começam a dar as notícias do trânsito na rádio. 
-Olha mãe a Inês Lopes Gonçalves deve estar a ver-nos nas câmeras do trânsito.- ainda lhe admiro a capacidade de reconhecer todas as vozes da rádio  mas respondo em tom de gozo.
-Sim, sim, provavelmente está!
Estranho a ausência de resposta, espreito  pelo espelho e vejo macaquito a acenar vigorosamente para a janela.

sábado, 6 de janeiro de 2018

É peixe...

Sempre que me quer dar graxa macaquita elogia as refeições que lhes preparo.
-Este jantar está delicioso, adoro este peixe! É o quê?- pergunta ela referindo-se à espécie.
-É o quê?! Ai macaquita, é bom! - responde o irmão prontamente.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Começo por adiantar um pedido de desculpas aos meus vizinhos

Depois de meses de estudo do Balão do João para violino, vai que o professor de acordeão de macaquito lhe dá a mesma música para estudar. 
A primeira diferença está apenas nas notas musicais, passamos de um MI DO DO RE SI SI... para um SOL MI MI FA RE RE...
A segunda e primordial diferença é que macaquita traz o violino para casa e eu estudo com ela, o que tem contribuído em larga escala para a minha perda de capacidade auditiva. Já macaquito, só toca na aula, em casa estuda as notas comigo, ou seja, cantamos as notas em casa, o que acredito que já tenha contribuído para uma eventual ordem de despejo por parte da demais vizinhança.
Ontem fomos à aula dele, a qual eu assisto (numa metodologia  de "watch and learn") e ele ia com a lição bem sabida mas apesar de se sair sempre melhor do que eu espero quando toca a pôr os deditos nas teclas do acordeão, dou comigo a pensar que ainda temos um longo caminho pela frente. 
No entanto, posso até dizer felizmente, ele tem um professor fantástico que acredita mesmo nele e tem muito de pedagogo. No final da aula, a notícia que macaquito aguardava ansiosamente desde Outubro.
-Bem macaquito, acho que estás quase preparado, mais duas aulas e começas a levar o acordeão para casa.
Pareceria muito mal se deixasse umas caixinhas de tampões para os ouvidos em cada caixa de correio?

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Daqui para a frente

Vejo os meus filhos crescer num instante, faço planos de coisas que quero fazer com eles e assusto-me ao reparar que talvez já não vá a tempo. Parece que tenho os dias a prazo, a infância é demasiado curta e quando todas as possibilidades não passam disso, possibilidades, vai que eles já têm as calças demasiado curtas. De movimentos restringidos nada posso fazer que não seja almejar, por dias melhores, por saúde, dinheiro e felicidade, esta última acaba por ser a mais fácil se não formos demasiado exigentes, fico-me bem com um fado mal cantado ou um violino tocado com a pressa de quem vai apanhar o comboio. Não me assusta a velhice, afinal quando lá chegamos é para o resto da vida, portanto, não há que temer, temo somente que lá chegue antes de cumprir os planos que vou protelando por razões que me ultrapassam e às quais, por mais que me esfalfe, não consigo pôr cobro.
Assim sendo, tudo o que desejo daqui para a frente, é uma camisola mais larga, que me permita mexer e cumprir com as promessas que teimo em não fazer para não lhes falhar.